1º DOMNGO DO ADVENTO

Marcos 13,33 – 37

Ficai de sobreaviso, vigiai; porque não sabeis quando será o tempo. Será como um homem que, partindo de uma viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos, indicando o trabalho de cada um, e manda ao porteiro que vigie. Vigiai, pois, visto que não sabeis quando o senhor da casa voltará, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que vindo de repente, não vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: vigiai!

Comentário

Já é hora de acordar! Eis o apelo de Jesus no Evangelho que inaugura este tempo do Advento. Uma nova aurora surge no horizonte da humanidade, trazendo a esperança de um novo tempo de um mundo renovado pela força do Evangelho. Neste tempo de graça, somos convocados a sair do torpor de uma prática religiosa inócua, a acordar do sono dos nossos projetos pessoais vazios e egoístas. Despertos e vigilantes, somos convidados a abraçar o projeto de Deus que vem ao nosso encontro, na espera fecunda do Tempo do Advento, temos a chance de reanimarmos em nós e os compromissos assumidos em favor da construção do Reino, reavivando as forças adormecidas, para a construção de uma humanidade nova, livre das trevas do sofrimento, da marginalização e da morte.

Frei Sandro Roberto da Costa, OFM - Petrópolis/RJ

2º DOMINGO DO ADVENTO

Marcos 1,1 – 8

Conforme está escrito no Profeta Isaias: Eis que envio meu anjo diante de ti: Ele preparará teu caminho. Uma voz clama no deserto: Traçai o caminho do Senhor, aplainai suas veredas (Mt 3,1); Is 40,3). João Batista apareceu no deserto e pregava um batismo de conversão para a remissão dos pecados. E saiam para ir ter com ele toda a Judéia, toda Jerusalém, confessando os seus pecados. João andava vestido de pelo de carneiro e trazia um cinto de couro em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel Sivestre. Ele pôs-se a proclamar: “depois de mim vem outro mais poderoso do que eu, ante o qual não sou digno de me prostrar para desatar-lhe a correia do calçado. Eu vos batizei com água; ele, porém, vos batizará no Espírito Santo”.

Comentário

“Preparai o caminho do Senhor, aplainai as suas veredas”. Clamando pelo deserto, João Batista nos indica que procurar viver conforme a Boa-Nova que Jesus nos trouxe não se trata, simplesmente, de viver dentro de um sistema religioso com certas práticas que nos identificam com tais. Talvez ele queira nos indicar que a fé, antes de tudo é um percurso, uma caminhada, onde podemos encontrar momentos fáceis e difíceis, dúvidas e interrogações, avanços e retrocessos, entusiasmo e disposição, mas também cansaço e fadiga. No entanto, o mais importante é que nunca deixemos de caminhar, pois o caminho se faz caminhando. Boa caminhada de Advento e preparação!

Frei Diego Atalino de Melo

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

A ESPIRITUALIDADE VICENTINA - AULA 13




CURSO BÁSICO DE FORMAÇÃO VICENTINA


VÍDEO AULA Nº 13

A ESPIRITUALIDADE VICENTINA


Apresentação



“Por vezes, quando reflito  sobre   
as tremendas consequências que
resultam  das  pequenas   coisas 
fico  tentado  a  pensar  que  não 
há pequenas coisas.”                    

(Bruce Barton)                           



“A questão que divide os homens de nossos dias não é mais uma questão de formas políticas, é uma questão social, consistindo em saber-se qual levará a melhor, se o espírito do egoísmo ou o do sacrifício; se a sociedade não será apenas uma exploração, em larga escala, em proveito dos mais fortes, ou uma consagração de cada um em benefício de todos, e principalmente, para a proteção dos mais fracos. Existem muitos homens que têm muito e outros que não têm o suficiente ou que nada têm. Entre estas duas classes de homens, uma luta se prepara; e esta luta deverá ser terrível: de um lado a posse do ouro e do outro, a posse do desespero. Entre estes dois inimigos armados, é preciso que nos precipitemos, senão para impedir, pelo menos para diminuir o choque. Eis a utilidade possível da Sociedade de São Vicente de Paulo”
                                                                       Frederico Ozanam, 13/12/1836


Inicialmente, nós  gostaríamos  de  trocar um pouco de infor- mações sobre os Princípios da Sociedade de São Vicente de Paulo e tirar um pouco de lição daquilo que ela representa para a vivência da nossa vocação vicentina.

Mas afinal, por quê conhecer os Princípios da SSVP:
  •          para conhecer a Regra Francesa?
  •         para entender o que se passava na cabeça de Ozanam?
  •         para aumentar a nossa cultura?

A importância de conhecer os Princípios da SSVP é compreen-der o fato de que ser vicentino é uma vocação – um chamado de Deus – para uma vida missionária.

Portando, a Espiritualidade e Vocação Vicentina tem por obje-tivo entender a essência de ser vicentino.

Neste tema, nós vamos falar sobre o verdadeiro significado da nossa vocação vicentina. Nós vamos ver que:
·        
    A  vocação vicentina é feita de espírito e ação     
·        Nós somos uma associação profundamente fraternal
·        Somos uma família de leigos cristãos
·        Somos uma Sociedade de espírito jovem
·        Somos uma Sociedade Universal
·        Somos uma “unidade na diversidade”
·        Somos uma Sociedade pobre
·        Somos uma Sociedade feita de membros com espírito de pobreza
·        Somos uma Sociedade modesta e eficiente
·    Somos uma Sociedade preocupada com a Justiça Social
·    Somos uma “rede universal de caridade” reunida em torno de Ozanam”

●●●●●

1. A VOCAÇÃO VICENTINA É FEITA DE ESPÍRITO E AÇÃO 
A vocação vicentina é um resultado do espírito primitivo e da ação vicentina no dia-a-dia. É esta vocação que faz a SSVP viver durante tantos anos.

VOCAÇÃO = “Chamamento da consciência esclarecida pela                                 graça do Espírito Santo”.

É também esta vocação que nos faz iguais entre nós e nos faz sentir “especiais” por servimos diretamente o Senhor na pessoa do Pobre.
Os vicentinos compartilham entre si o mesmo espírito primitivo e se sentem “especiais” por terem recebido a graça de conhecer o 
Senhor pelo Pobre.

De fato, o espírito da SSVP é o mesmo em qualquer lugar e o mesmo desde o  começo com  Ozanam e  seus companheiros.

VOCAÇÃO VICENTINA: Elementos básicos
    1.  Chamados à SANTIDADE
            2.  Chamados à SOLIDARIEDADE
          3.  Chamados à FRATERNIDADE

A ação vicentina tem uma parte que é  voltada para o Pobre e outra para os seus membros : uma é tão importante quanto a outra.

AÇÃO VICENTINA
·        Dar dignidade ao Pobre através do contato pessoal
·        Criar um grupo de amigos unidos entre si pelo amor à vocação vicentina


Viver em tal contato com  os que sofrem, viver unidos em comum e com tal espírito, é a própria essência, o conteúdo original da SSVP".                            
                                               (Frederico Ozanam)     
Boa aula.


Quer saber mais, leia abaixo.

1. A VOCAÇÃO VICENTINA, CORAÇÃO DA UNIDADE DA SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO

A palavra “vocação”, é empregada diversas vezes por Paulo VI, dirigindo-se à Sociedade de São Vicente de Paulo, exprime claramente a significação profunda da unidade, sentida de modo tão concreto por todos os seus membros.

UMA VOCAÇÃO, UM APELO: O SERVIÇO DIRETO AOS POBRES

Uma vocação, no sentido lato, é um chamamento da consciência esclarecida pela graça do Espírito Santo. Ter querido um dia experimentar vir a ser “vicentino”, é traduzir em atos uma consciência de nossa fé de cristão: isto não é somente o chamamento absolutamente universal do Cristo ao espírito da caridade, é uma nota particular desse apelo: o desejo íntimo de participar pessoal e diretamente do serviço aos pobres por um contato de pessoa a pessoa, pelo dom pessoal do seu coração e de sua amizade e de fazê-lo numa comunidade fraternal de leigos animados pela mesma vocação.

No início, ela exprimiu-se pela visita aos pobres em seu domicílio, considerada como o protótipo das atividades vicentinas. É preciso traduzir o seu sentido numa linguagem mais moderna: não se trata de contentar-se com “esmolas”, mas é necessário chegar ao diálogo pessoal com os desamparados, sem o menor traço de paternalismo, em atitude de confiança mútua, de respeito às pessoas, bem como ao lugar sagrado, que é o seu lar, de partilha da amizade e de reciprocidade dos serviços prestados e de todas as delicadezas do amor.

Toda atividade caritativa, vivificada por tal atitude, por ser considerada uma obra da Sociedade de São Vicente de Paulo.
Essa vocação poderia ser vivida isoladamente, mas ela não é plenamente sentida e sustentada, senão em certa comunidade: encontra-se aí a alegria de partilhar fraternalmente o mesmo ideal, mais completo respeito à dignidade dos pobres, que são auxiliados anonimamente pelo grupo, do qual tanto o mais pobre como o mais rico pode ser agente.

UMA MOTIVAÇÃO, UMA FINALIDADE

A fonte da vocação vicentina é, ao mesmo tempo, humana e divina: é a angústia sentida ante o espetáculo da miséria de outro ser humano, a reação espontânea de simpatia: é até a indignação diante das injustiças sofridas por nosso próximo. 

É também a atitude do cristão impregnada pela palavra de Deus, vivendo da esperança do mistério pascal da Ressurreição, portadora dessa mensagem que contém toda a fraternidade humana pelos que suportam sua cruz, pela fé nesse mistério da presença do Cristo nos pobres.

A finalidade é o socorro humano aos infelizes, no cuidado com a realização do seu destino de homens; é, também, pelas únicas vias interiores da graça e do testemunho, a salvação comum na participação do Reino de Deus.

(Preâmbulo da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).


2. NÓS SOMOS UMA ASSOCIAÇÃO PROFUNDAMENTE FRATERNAL

A CONFERÊNCIA é  um grupo de  irmãos  que, através do encontro frequente e do objetivo comum de servir forma 
uma família realmente fraterna.

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Desde seus primeiros encontros, os fundadores da Sociedade de São Vicente de Paulo sentiram tal conforto nessa experiência de vida comum, que se consideraram verdadeiramente “irmãos” e instituíram o costume de reencontrarem-se, com grande alegria, uma vez por semana. Em nossos dias, um mínimo de assiduidade e de regularidade das reuniões continua essencial.

A afeição mútua, a igualdade fraternal no seio da Conferência, como entre todas as Conferências do mundo, fazem da Sociedade de São Vicente de Paulo verdadeira “família” humana e espiritual, aberta a todos os que aspiram à sua  vocação própria.

(Preâmbulo da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).


3. SOMOS UMA FAMÍLIA DE LEIGOS CRISTÃOS

LAICIDADE = Uma Sociedade de leigos cristãos, unidos à Igreja Católica Apostólica Romana.

Apesar de vivermos em profunda união com a Igreja, temos a nossa própria vocação, nossas próprias regras e nossa autonomia de ação.
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É uma associação de leigos (sem que isto exclua os seminaristas, religiosos ou padres que queiram participar da vida vicentina). Vivem no mundo, assumem encargos e responsabilidades. Suas origens são de extrema diversidade: jovens ou idosos, sem a menor distinção de riqueza ou de limitações, não importa qual seja a condição social, étnica ou nacional. Basta que se entendam sobre a mesma finalidade e compartilhem suas experiências e sua preocupação comum de servir aos pobres.

São homens ou mulheres, solteiros, casados, viúvos, ou mesmo casais iluminando seu lar pelo amor ao próximo.

As características jurídicas deste estatuto de sociedade de leigos foram reconhecidas por diversos Papas, assim como pelos decretos e constituições conciliares do Vaticano II, acentuando que a caridade é o pilar de todo o apostolado, colocando no mesmo ato o destaque sobre o lugar das obras caritativas da Igreja.

A Sociedade de São Vicente de Paulo estabelece livremente suas regras, elege seus responsáveis com toda a independência, administra o seu patrimônio de maneira autônoma.

Mas trata-se de leigos cristãos: a estrutura da Sociedade está em harmonia com sua unidade na fé cristã; batizados, filhos adotivos de Deus pela redenção realizada pelo Cristo, membros de seu Corpo Místico, que é a Igreja Universal, aí se encontra o sentido profundo de sua fraternidade, de seu amor aos pobres, de seu apego à hierarquia. Embora independentes dela, como membros de um grupo de leigos, testemunham-lhe um fidelidade ainda mais espontânea do que se lhe fossem ligados juridicamente.

Nesse clima de liberdade, é de tradição prestar conta da atividade vicentina ao Papa, ao Bispo, ao Pároco e estar sempre prontos a associar a ação do Movimento à das organizações eclesiais que o desejem. Jamais a intimidade de tais relações foi desmentida e não se desmentirá, pois mais do que na “lei”, é no “espírito” que ela está escrita. A Igreja tão bem o sentiu na cúpula, que jamais cessou de renovar sua confiança na Sociedade de São Vicente de Paulo.
(Preâmbulo da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).

4. SOMOS UMA SOCIEDADE DE ESPÍRITO JOVEM

A Sociedade de São Vicente de Paulo foi fundada por jovens e dirigida aos jovens.

O espírito jovem independe da idade física.

A SSVP, desde a sua fundação tem características essencialmente jovens.

  • ENTUSIASMO
  • DINAMISMO
  • PROJEÇÃO PARA O FUTURO
  • ACEITAÇÃO DE RISCOS
  • CRIATIVIDADE                                                                                                                                     ●●●●●
                                 
Fundada por jovens e para jovens, cuja fraternidade se prolonga durante a vida inteira, o espírito de juventude é uma característica original e permanente da Sociedade de São Vicente de Paulo. Ela foi gravada desde o começo no Regulamento e aí permanecerá. Mas é também o ponto sobre o qual é mais necessário estar vigilante, pois a juventude do corpo se desvanece em cada um e é preciso renová-la constantemente no nível do coração e do pensamento.

O Espírito de juventude é o dinamismo, o entusiasmo, a projeção no futuro. É a aceitação generosa dos riscos, é a imaginação criadora, quer dizer, acima de tudo, a “adaptabilidade”, essa propriedade essencial da mocidade, bem mais importante que a adaptação que se torna esclerosada, quando não se sabe mais readaptar-se.

Neste sentido, a Sociedade de São Vicente de Paulo pode ser chamada “movimento de caridade e de apostolado”. No entanto, a juventude de idade não basta sempre para garantir a juventude de espírito, mas predispõe a isso. Dar amplo lugar aos jovens, compreende-los, dialogar com paciência recíproca, conferir-lhes encargos, ser jovens com eles, é tanto uma necessidade de recrutamento, como exigência de fidelidade à tradição vicentina de Ozanam.

(Preâmbulo da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).


5.  SOMOS UMA SOCIEDADE UNIVERSAL

UNIVERSALIDADE significa que as ações variam de acordo com as necessidades, mas mantendo o mesmo espírito.

Na atualidade, de fato  

1. existimos em mais de 140 países 
 2. com mais de 200 línguas diferentes 
3. temos os mesmos princípios fundamentais 
4. temos programas de auxílio mútuo, como p.ex.: Jumelage 5. adaptamos nossa ação às necessidades                              
6. "somos todos parecidos”  
7. temos uma coordenação mundial


●●●●●

Sabe-se como a primeira “Conferência de Caridade” se dividiu em duas “Conferências de São Vicente de Paulo, porque crescia desmesuradamente; depois proliferou no mundo inteiro, como um enxame e por geração espontânea. A tristeza da separação foi compensada por essa alegria e por este mistério: em qualquer lugar, onde o vicentino encontre uma Conferência, acha uma família – a mesma família – não obstante a extrema diversidade das ocupações e das particularidades nacionais.

Entre as centenas de milhares de “confrades” e “consocias” demais de cem nações dos cinco continentes, realiza-se a mesma vocação, a mesma regra, o mesmo vínculo, simbolizado pelo Conselho  Geral  Internacional, do  qual   as 
Conferências do mundo inteiro recebem sua “Agregação”.

Desde 1947, a possibilidade de cumprir regularmente, em Paris ou em outra cidade, Assembleias Plenárias reunindo os responsáveis nacionais, tem reforçado essa unidade: a colegialidade é a regra, ao passo que o Presidente exprime as decisões do Conselho, como representante do colegiado.

(Preâmbulo da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).

6. SOMOS UMA UNIDADE NA DIVERSIDADE

O segredo para existir durante tanto tempo é a Unidade na Diversidade.

Unidade de espírito + Diversidade de ação = Universalidade

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A universalidade implica, ao mesmo tempo, a unidade e a diversidade: as formas da pobreza evoluem como o mundo. Em todo lugar, a todo momento, é necessário imaginar uma “sondagem” da miséria e do alívio que lhe pode ser dado. A unidade fundamental da vocação vicentina está aberta a todas as disparidades de ações readaptadas constantemente para o mesmo fim. A sociedade permanece “una” no pluralismo de ações.

Esta unidade na universalidade estende-se naturalmente à abertura ecumênica da era pós-conciliar. É um sinal providencial que, desde a primeira metade do século XIX, apenas a palavra “cristão” tenha sido inscrita na Regra, para definir a comunidade essencial dos vicentinos. No entanto, a Sociedade de São Vicente de Paulo ia desenvolver-se durante mais de um século com fisionomia estritamente católica.

Por sua extensão e seu caráter universais, por sua franqueza e seu caráter leigo, por sua predisposição a cooperar com todas as espécies de ações caritativas dos cristãos e de todos os homens de boa vontade, pela própria natureza da “caridade contra a qual não há lei”, por um apostolado de testemunho, e não de proselitismo, a Sociedade de São Vicente de Paulo está preparada para experiências ecumênicas. Ela as considera, ao mesmo tempo, com prudência e com esperança. Reza pela unidade dos cristãos; tem sede dessa unidade; sente-se chamada a contribuir para isso.

(Preâmbulo da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).

7. SOMOS UMA SOCIEDADE POBRE
     
               ● Não juntamos por juntar, mas apenas para servir o pobre e     os vicentinos da forma mais eficiente...
  
    ● Damos no dia-a-dia o que recebemos...

    ● As despesas de funcionamento são reduzidas ao mínimo          compatível com a eficiência...

  ●  Temos uma administração mínima para evitar a desordem e    garantir a sobrevivência no futuro: nada de exageros              administrativos.

Critério de posse de recursos: serve ao pobre ou ao vicentino?
●●●●●

Aspiração a uma vida mais evangélica

No seio desta Sociedade de São Vicente de Paulo, cujas características constitutivas foram aqui evocadas, seus membros aspiram, tanto quanto lhes permite sua fraqueza, a responder à sua vocação por uma vida caritativa e apostólica, isto quer dizer: testemunho de sua fé pelo amor pessoal aos que sofrem. À luz das fontes evangélicas, como dos ensinamentos do Vaticano II, e em presença deste mundo de hoje, do qual assumem o encargo como leigos, os vicentinos redefinem sua missão e suas aspirações.

Pobreza da Sociedade de São Vicente de Paulo

A Sociedade é tradicionalmente pobre, isto é, não entesoura; dá, dia-a-dia, o que recebe de seus membros e benfeitores, pouco ou muito, segundo as circunstâncias. As despesas de funcionamento são reduzidas ao mínimo compatível com a eficacia: não se envolve com capitais mobiliários ou imobiliários de investimento, nem tem administração além da que é necessária para evitar a desordem.

(Preâmbulo da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).


8. SOMOS UMA SOCIEDADE FEITA DE MEMBROS COM ESPÍRITO DE POBREZA

“Não se pode entrar em diálogo com o Pobre, senão sendo também pobres em alguma coisa”. (Preambulo da Regra).

ESPÍRITO DE POBREZA SIGNIFICA ESPÍRITO DE PARTILHA.

Doamos ao Pobre e aos membros da SSVP aquilo de mais 
importante que temos:
·        
                nosso TEMPO
·            nossa EXPERIÊNCIA
·           nosso SABER
·           nosso PRAZER E SAÚDE
·           nossos DONS
·           nossos POUCOS RECURSOS MATERIAIS QUE SOBRAM

●●●●●

Espírito de pobreza dos vicentinos

A palavra “pobreza” tem significado complexo e ambíguo: pode-se dizer que a pobreza é uma condição econômica, mas pode considerar-se também que é uma disposição interior. As traduções da Bíblia empregam a palavra nos dois significados, que se interpenetram. Trata-se de aqui analisar brevemente a virtude da pobreza que acompanha a da caridade.

Não se pode entrar em diálogo com os Pobres, senão sendo também pobre em alguma coisa. Sentir isto é uma das graças mais profundas que pode receber o “visitador dos Pobres”. A cada um, segundo a sua vocação própria, compete ser testemunha da primeira das beatitudes, vivendo o espírito de pobreza, inseparável de algum despojamento voluntário ou acidentalmente sentido ou aceito de maneira concreta e vivida.

O espírito de pobreza é, antes de mais nada, espírito de partilha: a vontade de não reter as riquezas sem bom uso. 

Salvo caso excepcional, o “voto de pobreza” (no sentido dos religiosos) não é algo compatível com as responsabilidades de um leigo, mas é ainda maneira de pobreza, em sentir nossas riquezas, nossos talentos, como dirigidos incondicionalmente ao serviço do bem comum e, antes de tudo, ao serviço de nosso próximo mais deserdado.

O espírito de partilha exprimi-se, pelo menos, na vontade de partilhar totalmente alguma coisa: um dá o seu tempo e pratica a virtude da disponibilidade; outro dá seu dinheiro; este dá seu saber; aquele que usa sua saúde; aquele outro oferece o conforto que irradia de sua pessoa... Todo cristão, mesmo o mais indigente, pode, sem heroísmo excepcional, participar de tais partilhas, de tais trocas e, assim fazendo, apreende, pouco a pouco e livremente, a dar-se ele mesmo, no sentido que lhe é revelado pelas graças pessoais que recebe. A partilha é bem diversa de um donativo e completamente diferente da esmola; é feita de reciprocidade e de troca.

(Preâmbulo da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).

9. SOMOS UMA SOCIEDADE MODESTA E EFICIENTE

A exemplo de São Vicente de Paulo, procuramos juntar a modéstia à eficiência.

SOMOS MODESTOS QUANDO
§  
       Afastamos a publicidade que vise a glória do que fazemos
§  ●     Não buscamos grandes obras
§  ●     Não buscamos a fonte de nossa vocação: o contato pessoal

SOMOS EFICIENTES QUANDO
§  
       Buscamos os melhores meios disponíveis para a ação aos        Pobres e aos Vicentinos
§
  ●     Utilizamos a criatividade para resolver os problemas e              desenvolver a SSVP
§  
       Adaptamos a ação à necessidade e não a necessidade à            ação
●●●●●

Essa caridade vai além da esmola: implica constante disposição de humildade e de modéstia. O contato direto com os infelizes afasta primeiramente toda publicidade e demonstra até que ponto somos meros instrumentos inúteis, valorizados apenas pela graça de Deus. E, portanto, é preciso ir às raízes da miséria. Muitas vezes isto não se pode fazer sem meios poderosos. As grandes obras de beneficência e de assistência não são próprias dos vicentinos, que nunca as procuram, pois sabem que são pessoalmente chamados ao discreto papel de “soldado raso” na luta contra a miséria. 

Mas, se as circunstâncias os conduzem a tais obras, não as rejeitam, mas esforçam-se por conservar aí algo do contato humano para o qual foram formados pelo exercício da caridade vicentina.

Quanto à publicidade, ela situa-se entre o dever de informação (“não conservar a luz sob o alqueire”) e o dever de discrição.

(Preâmbulo da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).


10. SOMOS UMA SOCIEDADE PREOCUPADA COM A JUSTIÇA SOCIAL
    a)  Buscamos o conhecimento da miséria universal, porque          vamos à casa do Pobre saber suas necessidades.

     b) Lutamos contra todo o tipo de subdesenvolvimento,                 procurando dar dignidade ao Pobre.  



 C) Procuramos nos juntar a todo o tipo de instituição que            partilhe do espírito de caridade e de serviço.



●●●●●

PREOCUPAÇÃO COM A JUSTIÇA SOCIAL, DISPONIBILIDADE EM FACE DO "DESENVOLVIMENTO SOLIDÁRIO DA HUMANIDADE"

Se é necessário ser modesto, é também preciso ser lúcido. O excesso de modéstia arrisca encobrir a expressão das respon-sabilidades   de  uma   sociedade  tornada   providencialmente universal,  através de  tantos países do mundo: a constituição conciliar “gaudium et Spes”, as encíclicas “Mater et Magistra” e “Populorum Progressio”  são  elementos  fundamentais   de lucidez para todas as  vocações  caritativas,  mesmo  e princi- principalmente para as que desejem ser mais discretas.

Também a Sociedade de São Vicente de Paulo, em seu conjunto, e seus membros individualmente, sentem-se mais claramente interessados pelas novas dimensões da solidariedade global dos homens. Os entraves à justiça social, as misérias da fome, os sofrimentos do subdesenvolvimento, interessam a todos os vicentinos, mesmo que pareçam estar afastados no espaço. Não lhes é possível esquivarem-se a eles: a imaginação criadora deve conduzi-los a dedicar as virtudes do diálogo direto e pessoal a todos esses problemas mundiais, que não estão reservados unicamente à política internacional.

As dimensões do nosso próximo de hoje têm crescido; é preciso responder a isso. O Terceiro Mundo, por seus estudantes, seus trabalhadores, seus emigrantes, está presente no seio das cidades tecnicamente avançadas. O engajamento nas ações de cooperação pode ser considerado como uma expressão de vocação vicentina. Nas jovens comunidades cristãs dos países do Terceiro Mundo, o ideal vicentino já leva os mais pobres a socorrer eficazmente outros pobres, e a viver as dimensões do amor cristão. Tudo está por construir nesta etapa do mundo moderno.


(Preâmbulo da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).

De fato, no meio da caridade, da pobreza e da justiça,             existe sempre um vicentino.


CARIDADE
              POBREZA <-----> JUSTIÇA

                             ●●●●●



11.  SOMOS UMA “REDE UNIVERSAL DE CARIDADE” REUNIDA EM TORNO DE OZANAM

OZANAM: “Eu gostaria que o mundo inteiro fosse colocado em uma rede de caridade”

É esta nossa vocação: sermos uma “rede de caridade” universal em torno de Ozanam!

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PRESENÇA DA SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO NO MUNDO
Reencontrar eficazmente os que sofrem misérias as mais diversas não é apenas tema de meditação; é também exigência de aprendizado, de conhecimento técnico dos problemas sociais, da psicologia dos que sofrem alguma frustração, experiência do contato direto com os infelizes. A Sociedade de São Vicente de Paulo tem por missão fazer desenvolver essa técnica e, como todas as organizações da igreja, ela se faz presente e disponível, em cada um de seus membros, onde pude servir.

Toda unidade social pode ser campo de recrutamento e de atividade de uma Conferência de São Vicente de Paulo: escola, universidade, usina, hospital ou sanatório, mesmo prisão, etc., mas tradicionalmente a Conferência está presente em primeiro lugar, na Paróquia, e também nas comunidades mais diversas. Os vicentinos sabem que não têm o monopólio da caridade, que são apenas modesta família cristã possuindo experiência caritativa humilde e fecunda, e que por isso estão prontos a partilhá-la com todos e para todos. Seu serviço deve exprimir-se pela orientação pastoral: cooperar e servir, mas não desaparecer!

Sua colaboração pode estender-se igualmente às grandes organizações, como às “Caritas” nacionais e internacionais que empregam meios poderosos, e àquelas às quais podem fornecer a sua experiência do contato individual.

Esta presença e esta abertura devem manifestar-se enfim na sua família, na sua profissão, na sua vida cívica. Ela impregna toda a vida pessoal dos vicentinos.

PROCURA DE VIDA EVANGÉLICA, TESTEMUNHO DE ESPIRITUALIDADE E DE APOSTOLADO

A vocação vicentina não abrange só o serviço dos Pobres, mas também a entrada em comum no grupo: a Conferência de São Vicente de Paulo. É aí e a partir daí que, o mais das vezes com a ajuda de um assistente eclesiástico, é explicada, meditada, aprofundada, toda essa parte da espiritualidade que se refere às relações entre a pobreza, a justiça e a caridade, como a que viveu São Vicente de Paulo e que legou a seus filhos na religião. Diz-se de bom grado atualmente que há no serviço ao próximo e sobretudo aos mais pobres, uma espécie de “sacramento”, que é a aproximação ao Cristo sofredor, presente nos Pobres. Aí se situa o centro da espiritualidade vicentina: ela experimenta,  ao mesmo tempo, o que pode significar a presença de Cristo na Eucaristia, como sua presença nos Pobres. Esta comporta em valor de salvação, quer dizer, de acesso ao Reino dos Céus (Mt 25, 34-36). A espiritualidade vicentina sente como um escândalo o fato de ser-se indiferente à segunda, quando se tem tanta piedade pela primeira!

Cada um aproveita, segundo a graça que recebe e o acolhimento interior que lhe reserva. A esperança de todo vicentino, se corresponder à graça, é de chegar ao desejo expresso em uma das orações tradicionais do fim das reuniões: “...a fim de que, tendo dado aos Pobres de todo o coração o que possuem, terminem por dar-se a si mesmos”: linguagem antiga que exprime a mesma aspiração à vida das beatitudes, isto é, à vida segundo o Evangelho.
Será um ideal excessivo e abusivamente constrangedor? Não! A Regra vicentina não obriga em consciência, e isto pode tranquilizar os mais escrupulosos. A experiência de mais de um século mostra que a aspiração a esse ideal de vida evangélica é expressa, às mais das vezes, por cristãos simples, desprovidos do menor sentimento de heroísmo: camponeses pobres de um país tropical, estudantes oprimidos por seus estudos, operários prostrados de fadiga, responsáveis esmagados por preocupações...

É entre os “cristãos médios” que o sopro do Espírito Santo chama a maioria para a Sociedade de São Vicente de Paulo, e engaja-os, à sua medida, por vezes além dessa medida, para o serviço aos mais pobres. É um ideal de solidariedade no acesso ao Reino de Deus; é o que há de mais antigo e de mais novo como testemunho apostólico.

(Preâmbulo da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977). 

PREÂMBULO: Escrito por Pierre Chouard - Presidente Geral de 1954 a 1969.

































































































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